quinta-feira, 8 de março de 2012

Dona Neném - Receita de família

Observadora e crítica, ainda na feira, logo que o sol nascia, escolhia o abacaxi como quem seleciona uma jóia. Primeiro olhava, atenta, a cor, pequenas imperfeições na casca e o aspecto da coroa. Invariavelmente, travava um pequeno diálogo com o feirante que logo, sem perceber, falava da procedência, armazenamento e qualidade do produto. Não raro, diante de tamanha simpatia e doçura, o homem de voz aguda e sotaque carregado do agreste pernambucano dizia baixinho: Dona Neném, hoje eles estão aguados, “sonsos”... mas se a senhora voltar amanhã, guardo os melhores que chegarem, logo cedo, do Ceasa. E geralmente era assim. Em poucos instantes de conversa, ela cativava estranhos e extraía, sem que eles percebessem, o que cada um tinha de melhor, ou de mais secreto. Não raro, pelos corredores da feira, podia-se ouvir alguém gritando: Opa, Dona Nenem, mainha saiu do hospital. Aquele chá é milagroso mesmo, visse? Logo que respondia à saudação, me puxava pelo braço e dizia baixinho, referindo-se à tal “mainha” recém restabelecida: “já fizeram de tudo, mas não tem jeito não minha filha, é coisa ruim mesmo. Coitada, tão nova...”
Quando a incursão resultava em sucesso, chegava em casa carregando as sacolas de couro cheias de cores, cheiros e texturas. Lavava tudo e separava cuidadosamente, mais ou menos como guardava as roupas engomadas no armário. Sobre as verduras ou as camisas, sempre passava a mão, como um afago, antes de fechar a porta. Contente, punha-se então a separar caçarolas e colheres de pau (segundo ela indispensáveis à boa mesa) com a habilidade e a destreza de um cirurgião, e movia-se pela cozinha alternando passos largos e meias-voltas, como num bailado de quadrilha antiga. E assim começava o ritual da Delícia de Abacaxi. Aprendi muito sobre Dona Neném vendo-a cozinhar. Vamos então á receita.
Como disse antes, o abacaxi deve ser escolhido como se fosse uma jóia. Deve ser observado, e manuseado muito delicadamente. E era mais ou menos assim que ela escolhia tudo em sua vida. Antes da missa, ela abria as portas do guarda-roupas e olhava todos os vestidos. Tirava dois ou três, estendia-os sobre a cama (ainda nos cabides). No chão, logo abaixo de cada um deles, alinhava um par de sapatos e voltava a observar. Escolhia um conjunto e o colocava na frente do corpo diante do espelho. Esticava um dos pés até perto do sapato e inclinava, vagarosamente, a cabeça para a direita, para que os olhos pudessem alcançar toda a extensão da imagem refletida. Com o abacaxi da “delícia”, ela agia com o mesmo cuidado até a hora de descascá-lo e cortá-lo em cubos médios.
Era nesse momento (o de descascar e cortar), que Dona Neném revelava, ainda que inadvertidamente, nuances de sua personalidade que costumavam passar despercebidas. Sem medo de se machucar, envolvia a coroa do abacaxi com uma das mãos e arrancava-a em um só movimento. Segurava a faca afiada com firmeza e cortava o abacaxi ao meio, como diziam na época, lá em Pernambuco, “num talho só”. Em seguida, de cada metade arrancava tiras grossas de casca, batendo a faca afiada na tábua de madeira ao final de cada corte. Era tão incisiva e precisa que todos os movimentos, até que o tão “precioso” abacaxi estivesse reduzido a cubos em tamanho uniforme, pareciam fazer parte de um único e ininterrupto gesto de balé, como nas seqüências de piruetas que costumam arrancar aplausos empolgados da platéia.
Era com essa força e agilidades quase rudes que Dona Neném se referia a seus poucos desafetos. Cabe uma ressalva: não só eram poucos, como também passageiros. Magoava-se tão rapidamente quanto separava, num talho só, as metades do abacaxi. Bastava uma palavra mal colocada, um olhar interpretado como malicioso ou uma crítica, qualquer que fosse, a seus filhos e netos, para suas bochechas enrubescerem e seu buço cobrir-se instantaneamente com gotículas de suor. E toda essa efervescência ebulia em exclamações agudas, que não chegavam a ser gritos, quando o autor dos tais “desaforos” se ausentava: “Ôxe, cabra safado, sem vergonha!”... “Isso é inveja desse porcaria!”... “Que besteira, tá pensando que é high society!”
Como eu disse, os desafetos eram, em sua maioria, passageiros. Após a explosão de agilidade e força com que cortara o abacaxi, ela ajeitava os cubos em uma panela grande, espalhava sobre eles uma generosa xícara de açúcar e fervia a mistura, mexendo sempre (com a colher de pau), até que se transformasse em um doce caudaloso. Da mesma forma, após a explosão de raiva, ela respirava fundo e se calava por um bom tempo. Esse tempo, para mim, permanece uma incógnita: era impossível perceber se a raiva passara ou se, como o doce, estava sendo “apurada”, remexida, para se transformar depois em algo que já não era raiva, mas que permanecia em cubos, como antes. Só sei que dias depois, se soubesse de alguma desventura ou infortúnio do tal “cabra safado”, derretia-se como o açúcar do doce e, com ares de arrependimento dizia, agora em tom moderado: “O bichinho... é um coitado esse fulano”... “Êita danado, foi mesmo,foi? Esse é mesmo um pobre coitado...”
Feito o tal doce com os cubos do abacaxi e a xícara de açúcar, Dona Neném separava a calda, usando uma peneira que retinha o abacaxi e deixava escorrer o líquido, agora viscoso, e em tom amarelo claro. Para separar bem, quando o líquido parava de verter, ela espremia delicadamente, com uma colher, os cubos de abacaxi ainda dispostos na peneira. Poucas gotas caíam, mas incrivelmente, sempre eram suficientes para completar a medida de calda necessária para a receita: o equivalente a uma lata de leite condensado. E ela dizia: “Minha filha, cozinha é assim: tem a receita, que é bom seguir. Mas os segredinhos a gente só aprende fazendo mesmo”.
Taí, mais um pedacinho de Dona Neném na Delícia de Abacaxi! Com uma formação moral e religiosa muito rígida, perdeu a mãe, vítima de derrame, quando tinha apenas quinze anos. Pelo que me lembro, Dona Estelita teve pouco tempo para ensinar a Neném algumas coisas importantes sobre a vida. Então Dona Neném cresceu com algumas poucas regras que lhe foram passadas pela mãe, e que, invariavelmente, ela seguia. O resto, os “segredinhos”, acho que ela foi aprendendo aqui e ali, observando os outros, e incluindo gestos e palavras em sua receita de vida. A mãe, antes de morrer, ainda teve tempo de ensiná-la a bordar. Todas as noites, quando Neném já estava deitada, Estelita ia a seu quarto e pegava, sobre a mala onde guardava os bordados, a peça que Neném confeccionava no momento. Erguia-a contra a luz, olhava o direito e o avesso, chacoalhava, como que para tirar o pó e colava-a novamente sobre a mala. Um noite, pensativa, olhando para o nada Dona Neném me perguntou: “Tu ainda borda?”. Diante da minha resposta afirmativa, ela respondeu, ainda pensativa: “Eu bordava tão direitinho... minha mãe me ensinou... bordei todo o meu enxoval, mas minha vontade de bordar morreu com ela”.
A próxima etapa da receita da Delícia de Abacaxi, me lembra um momento muito especial que vivi com Dona Neném: ela me ensinou a abrir latas! Os cubos de abacaxi eram colocados no fundo de um refratário, e sobre ela, colocava-se um creme que deveria ferver até desgrudar do fundo da panela. Esse creme era feito com três gemas de ovo, a calda do doce de abacaxi e uma lata de leite condensado. Enquanto Dona Neném separava as gemas, pediu que eu abrisse a lata de leite condensado. Constrangida, no auge do orgulho de uma criança de nove anos, eu disse, já com lágrimas nos olhos: “eu não sei abrir lata”. Explico o orgulho e as lágrimas: meses antes desse momento com Dona Neném, tentando ajudar minha mãe na cozinha, fracassei na difícil tarefa de abrir uma lata de ervilhas. Por motivos que até hoje não conheço muito bem, naquele dia minha mãe estava, como costumava-se dizer, “uma pilha de nervos”. O resultado foi desastroso, com a lata de ervilhas no chão, semi-aberta, minhas mãos tremendo como as asas de uma borboleta e minha mãe irritada com o atraso que eu havia provocado. Isso explica as lágrimas. O orgulho é o de toda criança, ferido ao admitir que não sabe fazer algo tão banal.
Aparentemente sem se abalar muito, Dona Neném terminou de separar as gemas, lavou as mãos e enxugou-as no avental enquanto eu contava, já aos soluços, minha triste incursão pelo mundo dos abridores de latas. Interrompeu então a receita (coisa que ela não gostava muito de fazer) e me pegou no colo, me aninhou, como quem embala um recém nascido e me explicou alguns dos problemas que construíam a “pilha de nervos” de minha mãe (sua filha). Vendo que eu me acalmava e que já praticamente me condoia com as agruras de uma mãe de trinta e cinco anos, ela anunciou, em tom de epopeia: “Venha, Nega, vamos lavar o rosto que eu vou te ensinar a abrir latas... você vai ver, não tem segredo não, é só praticar”. Devo ter atrasado a Delícia de Abacaxi em pelo menos uns quarenta minutos. Ela segurou a minha mão e foi explicando: “Isso, o dedão empurra”, “só mais um tantinho de força”, “escorregou?, não tem problema não, isso é assim mesmo”, “calma, não precisa chorar, isso é uma besteirinha de nada”.
Os últimos três empurrões no abridor eu consegui dar sozinha. Vitória! Dona Neném e Luciene, a empregada de traços fortes e ombros largos, masculinos, aplaudiram e correram logo para mostrar a todos da casa, a essa altura toda mobilizada com a minha empreitada: “Veja Alcides, ela abriu praticamente sozinha!”, ao que ele respondeu: “Essa menina é mesmo uma danada!”. Luciene, empolgada, com a lata na mão e o sorriso duro aberto: “Ó paí, Seu Pedrinho, abriu foi a lata todinha, ó!”, e o velho Pedro: “Isso é a maior abridora de latas de todos os tempos!”. Naquele dia, mais do que em qualquer aniversário, formatura, defesa de tese que viria depois, eu fui o centro das atenções, e o motivo da festa!
A festa acabou tão rápido quanto começou. E como se nada tivesse acontecido, mas com um sorriso de satisfação no rosto, Dona Neném lavou as mãos novamente, enxugou-as mais uma vez no avental, e finalmente pode misturar, em uma panela, as três gemas, a calda de abacaxi e o leite condensado da tão festejada lata. Nesse caso, o “segredinho” era mexer lentamente, mas sem intervalos, até o creme ferver e começar a desgrudar do fundo da panela. E era assim sempre que algo inesperado interrompia sua rotina.
Certa vez, Luciene se estranhou com Dourado, o cão da família. Sobre Luciene, cabe um à parte: abandonada pela mãe, ainda muito pequena, foi criada pelo pai e os cinco irmãos homens. E foi assim, como mais um homem da família que foi educada. Carregava sacos pesados na feira de Limoeiro e jogava bola tão bem quanto os moleques da vizinhança. O peso das macaxeiras, inhames e jacas lhe moldaram o corpo de forma truculenta e, olhando-a de costas, exceto pelos lindos e lisos cabelos negros que lhe caíam até o ombro, poderia facilmente ser confundida com um rapaz. A despeito da truculência, na maior parte do tempo era divertida e agitada, com gestos e tons infantis até. Trocava as letras das músicas que ouvia no pequeno rádio a pilha que permanecia ligado na casa de Dona Neném até as quatro da tarde, quando terminava seu serviço e saía de bicicleta para comprar pão. E era também como uma criança que, esporadicamente, tinha acessos repentinos de fúria. E foi num desses acessos que imprensou Dourado entre as portas que se abriam para o terraço da casa. Ao grito agudo repetido do cachorro, Dr. Alcides irrompeu da biblioteca da casa, pisando firme, quase correndo. Ao deparar-se com a cena da empregada maltratando o cachorro, teve ele também um acesso de fúria, e como era comum nesses momentos, gritou, quase em desespero: “Neneeeeeeeem!”. Pronto, estava quebrada a rotina de Dona Neném!
Assustada com o estardalhaço, Dona Neném inteirou-se logo do que estava acontecendo. E pronto, instaurou-se o desafeto: gotas de suor no buço, rosto vermelho, respiração ofegante e as exclamações agudas, quase ácidas, que Luciene ouvira tantas outras vezes, só que dirigidas a ofensores ausentes: “Você uma mulher danada de ruim, sua peste!”, “Como é que alguém tem coragem de judiar de uma criatura de Deus desse jeito?”, “O bichinho não faz mal a ninguém, sua nega ruim da moléstia!”
Os apelos de Luciene para não ser demitida (e com isso perder também o teto) não tardaram. Vinham sempre permeados por sua triste história de abandono, e muitas, muitas lágrimas. E muitos, muitos soluços. E pronto, o coração de Dona Neném amoleceu, aos poucos mas não vagarosamente, exatamente como o doce de abacaxi em cubos. Em poucos instantes (que naquele momento pareceram uma eternidade) e após boas doses de carinhos e sorvetes para Dourado, Dona Neném estava de volta à maquina de costuras. E antes de dormir, quando Luciene se despediu em direção ao quarto nos fundos da casa, ouviu de uma agora calma e terna Dona Neném: “Deus te abençoe, minha filha”.
Se tem algo que “herdei” de Dona Neném foi uma certa dificuldade em lidar com o que ela chamava de “modernidades”. Liquidificadores e batedeiras elétricas só eram usados em caso de extrema necessidade. Quando experimentava algo que tivesse preparado, dizia orgulhosa: “tudo feito ‘na mão’ é mais gostoso”. Bolos eram batidos manualmente, e o leite de coco extraído da própria fruta, com o auxílio de um ralador. Aliás, uma das imagens mais presentes que tenho daqueles tempos é a de Dona Neném sentada em um tamborete ralando o coco maduro para em seguida extrair o leite, torcendo a polpa em um pano de prato limpo.
Para a última camada da Delícia, ela batia as claras em neve com um utensílio em forma de mola, com cabo de madeira. O ponto, dizia ela, era quando as claras se pareciam com nuvens e não caíam da tigela quando esta era emborcada. “Esse ponto, minha filha, a gente só consegue na mão mesmo... esse negócio de batedeira não dá certo não”. Às claras ela acrescentava vagarosamente uma lata de creme de leite (sem o soro), formando assim a cobertura da Delícia de Abacaxi. A textura dessa última etapa ficava aerada e refrescante, equilibrando a acidez dos cubos de abacaxi e o doce quase enjoativo da segunda camada.
Hoje, relembrando a nuvem na tigela, sem que eu entenda muito bem por quê, me vem à tona uma imagem: À noite, infalivelmente, ela me colocava na cama já preparada com o mosquiteiro cor-de-rosa, chacoalhava um lençol branquinho e sempre muito cheiroso e me cobria tão delicadamente quanto misturava as claras com o creme de leite. A despeito do calor quase sólido de Recife em janeiro, o toque do lençol em minha pele e o “Deus te abençoe” que eu ouvia em seguida me causavam um conforto que até hoje eu não consigo explicar. Pensando bem, acho que essa recordação conectou-se à terceira camada da Delícia pela suavidade com que Dona Neném tratava tudo o que dizia respeito a mim. Antes de sair do quarto, ela apagava a luz e ligava o ventilador. E eu dormia, com o gosto de nuvens na boca e todas as sensações que emanavam de Dona Neném me tocando a pele: o doce, o ácido e o refrescante equilibrados em um coraçãozinho que começava a crescer.

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Morte Desanunciada

Hahahaha!!!!!!!!!!!!! Eu, há meses distante deste blog, meio sem assunto, meio sem vontade, meio com preguiça, confesso que me surpreendi com a notícia da morte de Amin (ou Amim) Kahder (ou Khader, talvez). Consta, no meio virtual - que me vejo às vezes obrigada a frequentar - que se trata de um “promoter”, às vezes “repórter” , supostamente “comediante” e, pelos termos atuais, certamente “celebridade”.O tal morto teria falecido na madrugada do dia 28 de junho. Triste, certamente muito triste. Colegas de emissora do tal suposto morto, inconsoláveis, anunciavam com lágrimas nos olhos e rostos consternados, a “passagem” de Amin (ou Amim), com dedos indicadores e polegares socorrendo lágrimas que caíam inadvertidamente, dos cantos internos dos olhos , e soluços a muito custo contidos. E mais soluços, e suspiros. E rios de elogios a seu caráter e companheirismo (isso eu não questiono, só relato). Esta foi a configuração, para usar um termo delicado, da minha manhã de terça.
Poucos instantes atrás, já quase meia noite da mesma terça-feira (minha tarde e noite de terça foram tomadas por compromissos profissionais deliciosos, salve!), qual não foi a minha surpresa!!!!!!!!!!!!!!!! Não só estava o suposto morto “vivinho da silva”, como teria o mesmo corrido alguns quilômetros nos arredores da Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro, Cidade Maravilhosa. Como diria a minha madrinha lá do interior: Jesus, Maria, José... ou o mundo tá perdido, oooooou... (minha madrinha nunca completou a frase).
É simplesmente inacreditável, ou sensatamente inaceitável, que a morte seja usada de forma tão frívola e banal, para objetivos que, imagino, nem o mais experiente dos “maquiaveis” seria capaz de imaginar (perdoem meu neologismo, mas a ocasião merece).
De minha parte, já perdi para a morte pessoas indispensáveis. Sinto a falta delas toda hora, até hoje, anos e anos depois. E me seria aviltante, quase ofensivo, “brincar” com o único elo que liga a todos nós, seres humanos: a finitude. Independente de sermos brancos, amarelos, pobres, milionários, especiais ou não, anônimos ou celebridades, só temos uma certeza na vida (como diria minha saudosa avó): para morrer, basta estar vivo! Não é Amin?

quinta-feira, 10 de março de 2011

A Carta

J. V., março de 2011.

Cecília,

Acho que pela chuva insistente e constante o cheiro da fumaça das chaminés da vizinhança me é quase sólido. Tanto quanto são presentes algumas recordações longínquas que hoje me trazem até você. Lembro-me tão bem de acordar embalado pelos sinos da catedral, às seis da manhã, e ter como primeira vista os arbustos da calçada chacoalhando lentamente com a chuva e o vento discreto do final do verão.Não houve um dia sequer em que você já não estivesse em pé, coando o café no coador de pano e torrando o pão com manteiga na chapa de ferro. Às vezes ainda sinto cheiro parecido,às cinco da tarde, quando os homens voltam de marmita vazia e as luzes começam a ser acesas nos casebres de madeira sobre palafitas, tão comuns por aqui.
Confesso que me irritava ter que ajoelhar diante da sua Santa todos os dias antes da escola. Já tão pequeno eu tinha a consciência, ainda que primitiva, de que sonhos, expectativas e crenças não deveriam ser herdados. Que Santa era aquela mesmo? Sabe, os anos que passei "quebrando a cara por conta própria" me afastaram das crenças e sonhos com os quais você tentou me alimentar, mas não esqueço o medo que sentia da chaga que a sua Santa trazia na testa. Tive pesadelos com isso... por anos. Hoje, com as chagas invisíveis que adquiri "quebrando a cara",todo aquele meu medo foi reduzido a boas risadas em mesas de bar, onde contei em várias línguas, sempre em tom jocoso, a minha infância "no castelo amarelo" onde por vezes eu era super-heroi de calças curtas e suspensório marrom; outras tantas eu era o imperador, cercado por azulejos azuis, vigiado pela Santa da Chaga e protegido por grades brancas e baixas. Sempre pensava que só mesmo a Santa para me proteger da vulnerabilidade de meu castelo. Ainda mais quando Luzia, àquela época quase tão criança quanto eu, irrompia estrondosa e atrapalhada trazendo bolachas de nata para o banquete do imperador.
Por falar nisso, como anda a velha Luzia? Ainda se esmerando para manter limpa a parte de trás da casa? Sabe, Cecília, nunca entendi o motivo da reforma. Você envelheceu anos pensando nos detalhes e se empenhando na crueldade de cobrir de cimento e cal nossas lembranças mais alegres, minhas e de meus irmãos... Sim, porque o castelo na varanda da frente não era nada comparado à floresta tropical, cercada de cores e índios onde eu, um bandeirante de calças curtas e botas Sete Léguas, caçava tigres e elefantes para o sustento de minha gente. Anos depois, na África, lembrei-me disso e ri muito quando um habitante local me perguntou como caçávamos tigres no Brasil.Talvez tenha sido melhor manter minha floresta só na lembrança. Até porque antes mesmo de ter sido engolida por concreto e tijolo, ela ruiu nas aulas de geografia do Eugênio Franco... Só sei que até hoje não encontrei lugar onde, no meio de tantos perigos imaginários, me sentisse verdadeiramente tão feliz e protegido.
Não estranhe minha amargura. Ela não reflete, deveras, o atual estado de meu espírito; apenas reforça o caráter melancólico e saudosista de todos que andam pelo mundo em busca de algo que não sabem descrever, de pessoas imaginadas e de um futuro inalcançável. Posso dizer que estou feliz, aqui em J.V. Estive, ao longo desse anos de ausência, no centro do mundo. Fui engolido por arranhacéus cujos cumes se escondem nas nuvens, e regurgitado em desertos em que o horizonte é invisível, tamanha a imensidão do nada. Pessoas sem nome que passaram por minha vida me ensinaram coisas interessantes, mas nenhuma delas aprendi por completo. Minha alma inquieta me levava pra longe tão logo meu coração desse sinais de apego. E eu saía quase como saí de sua casa, sem dizer para onde, sem deixar endereço e, quase sempre, sem destino.
Com o passar do tempo, essas minhas andanças foram perdendo o sentido.Passei a não achar engraçadas as histórias regadas a conhaque e charutos de meus melhores amigos instantâneos. A modernidade das grandes cidades passou a ofuscar meus pensamentos com seus vidros azuis espelhados e suas lâmpadas frias. Passei a não enxergar mais a tradição de cidades centenárias, apenas o cinza de suas ruínas e o cheiro nauseante de suas vielas mal cuidadas. Muitas vezes tive pesadelos em que eu era enterrado por cimento e realidade, como aconteceu com minha floresta tropical.
Foi assim que há mais ou menos dois anos ancorei aqui em J.V. A princípio era só para passar a noite e descansar os pés de uma longa caminhada, desde o litoral. Decidi, já nessa primeira noite, estender minha estadia por mais uma semana. O lugar me pareceu perfeito para o descanso: roupas de cama limpas, café de coador de pano todas as manhãs e um silêncio nostálgico quase o dia todo, quebrado apenas pela Ave-Maria cantada pelos auto-falantes da igrejinha às seis da tarde, como é de costume nesta região de nosso país. E assim fui ficando. Me afeiçoei aos locais que se cumprimentam solenemente com um aceno de cabeça; são de poucas palavras, mas de um olhar firme e penetrante que me faz sentir tão seguro quanto em minha floresta da infância.
Poucos meses depois, já morando em um sobrado que pintei de amarelo e branco, conheci alguém que fez surgir em mim um sentimento que eu não conhecia até então: a vontade de criar raízes, de escrever minha história em único cenário. Não é de uma beleza estonteante ou de qualquer qualidade marcante que me permitisse descrevê-la em uma palavra. É simplesmente uma dessas pessoas que parece que conhecemos desde sempre; sem mistérios, de poucas palavras como todos aqui, e de gestos contidos, embora não calculados.
Quando a vi pela primeira vez meus olhos fixaram-se instantaneamente em seu rosto, de uma brancura quase transparente, emoldurado com cabelos finos, compridos e negros. A vi de perfil e já notei a harmonia de seus traços, sustentados por um pescoço afilado e um colo tão discreto quanto seus olhos pequenos, de um cinza apagado, quase gris. E foi quando ela se virou, ficando de frente para mim, com um meio sorriso, que decidi ficar aqui definitivamente. Uma marca em sua testa - que em muito me lembrou a chaga de sua Santa – desviou meus olhos instantaneamente, e o medo pueril de outrora ressurgiu travestido de ternura e segurança... Inexplicáveis essas coisas do amor, não Cecília?
Hoje me sinto com o coração aveludado. Ainda não sei o que procurava, mas o que encontrei me trouxe o conforto do qual fugi inicialmente... o conforto de nossa casa amarela de esquina, com meu despertar embalado pelos sinos da Catedral.
Em breve nossa filha virá ao mundo e espero, mais do que tudo, que ela se sinta segura aqui, como eu me sentia na floresta dos fundos da casa amarela. Em homenagem a esse mundo de sonhos que contei e recontei diversas vezes à minha “salvadora”, nossa pequena imperatriz (ou bandeirante) se chamará Cecília. Confesso que não foi minha a ideia, mas com o tempo passei a gostar de trazer para minha nova vida traços, cores e contornos do passado que hoje reinvento e revivo, a cada segundo. Pela minha vontade inicial era teria o nome da mãe: Rita. Rita de Cássia!
Ass: Seu caçula

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Sem Nome

Hoje quero falar pouco, bem pouco. Ando pensando tanto, e consistentemente chegando a lugar nenhum. Só patino, tropeço, gaguejo. Só aumentam a angústia - constante - e a ansiedade, adversária contra a qual desisti de lutar.
Dizem-me todos que isso passa. Eu acredito, não questiono. Mas no fundo, bem lá no fundo, num lugar para o qual nem eu ouso olhar, lamento.Tem mesmo que ser assim?

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Pessoas que valem a pena

Ao contrário do que sempre faço nas minhas crônicas, vou direto ao assunto; sem prolegômenos!
Pessoas que valem a pena são aquelas que riem até as bochechas doerem. Mesmo que no final de tudo elas não se lembrem exatamente por que começaram a rir.
Pessoas que valem a pena não têm lista de convidados. Têm amigos que, por sua vez, têm outros amigos, e, no final, todos juntos fazem um samba. Ainda que descompassado, mas que no final da noite se abraçam e cantam Noel, ou Chico (pra você, Camila).
Pessoas que valem a pena não perguntam por que, só onde e quando. Não questionam se é preciso, nem tão pouco vantajoso, ou se há tempo, circunstância; elas estão lá (pra você, Alia) .Simplesmente. E abrem mão de uma tarde de descanso pra jogar conversa fora, como se o tempo não existisse, só pra estar perto de você e te dar força, mesmo quando você não quer falar o que exatamente te enfraquece (pra você, Ju).
Pessoas que valem a pena te chamam pra chorar o amor perdido, a mãe doente, o resultado negativo de um emprego, de um sonho. E também te chamam pra comemorar tudo, absolutamente tudo de bom que a vida trouxe, ainda que sem aviso: o encontro inesperado com o grande amor, uma pequena (grande) conquista profissional. Elas te incluem, naturalmente, em tudo o que diz respeito a elas. Automaticamente, sem pensar (pra você, Pipo).
Pessoas que valem a pena não são exatamente como você gostaria que fossem. Mas são como é possível ser pra te amar, do jeito que você é. E você as ama assim como elas são. Às vezes, você pode até se questionar se ainda vale a pena. Mas logo em seguida se lembra que são essas pessoas que estiveram sempre ali, ao seu lado, sabiamente caladas, só te dando as mãos enquanto passa a tempestade (pra você, Lu).
Pessoas que valem a pena são aquelas que, mesmo longe, parece que nunca se afastaram. E que, mesmo anos depois, continuam entendendo suas angústias, suas dúvidas, seus desassossegos. E que quando vocês se reencontram, parece que ficaram poucas horas afastados. São pessoas que te entendem com um olhar, como se tivessem nascido ao seu lado (pra vocês, Carmen e Helô).
Pessoas que valem a pena são aquelas que te fazem morrer de rir com histórias do cotidiano, que te dizem, mesmo sem falar, que você é totalmente excelente (Lili, nem preciso dizer que é pra você, né?).
Pessoas que valem a pena te convencem, com simples e impagáveis gestos, que você é da família, mesmo sendo tão diferente e com tão poucas coisas em comum (Cris e Má).
Pessoas que valem a pena te fazem rir inesperadamente. E te fazem sentir linda, acordando descabelada e de pijamas. E te abraçam com tanto carinho que parece que você é a última bolacha recheada do pacote. E te concedem o privilégio de dividir a vida com elas (pro meu amor).
Depois de tudo isso, de tanta gente que vale a pena na minha vida, talvez, só talvez, eu seja uma dessas pessoas que valem a pena!

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Quando o Sol Nascer...

... Na jenela do seu quarto... Lembram dessa música?
Quem diria, que tantos anos depois este seria o hino de tantos brasileiros!
Como assídua observadora do cotidiano, eu não poderia deixar de comentar os acontecimentos recentes na região serrana do Rio de Janeiro.
Como sentimental assumida, eu não poderia deixar de dizer: triste, muito triste!
Há dias tenho acompanhado essa tragédia, e vejo uma sucessão de imagens tristes, tão devastadoras quanto a força das águas. E tanto sofrimento, daquele mais primal do ser humano: a falta de abrigo, de calor, de alimento, de família.
Mas, como boa leitora das entrelinhas da vida, uma imagem me impressionou em particular. Permitam-me descrever.
Eu estava já há alguns dias ouvindo os depoimentos dos flagelados, assistindo a imagens inimagináveis, vendo a todo momento rios inesperados invadirem, sem aviso, a realidade. Acho que até já tinha visto, em um desses telejornais, que a casa onde Tom Jobim compôs "Águas de Março" havia sido destruída, em questão de segundos, pela tragédia anunciada das águas de janeiro. Enfim... parecia que nada mais, no meio do mar de lama, sangue e vidas, iria me surpreender.
Eu estava errada. Entre a salada e o peixinho grelhado da minha hora de almoço, vi na tela da tv uma criança, menina, de sete anos de idade. Os olhos brilhantes e um meio sorriso nos lábios, creio eu, por estar aparecendo na TV. E uma repórter afoita, eu diria quase inconveniente, a entrevistando. Na verdade, não vi a repórter; só um microfone muito grande ocultando os lábios da menina, mas deixando seus olhinhos brilhantes a mostra.
Não me lembro muito bem o que a repórter - desde o começo mera coadjuvante para mim - perguntou ou anunciou no começo da reportagem. Vagamente me lembro que a chamada do jornal dizia que o conselho tutelar do Estado do Rio de Janeiro estava "recolhendo" (esta foi a palavra usada) as crianças cujos pais se recusavam a sair das áreas de risco. Essas crianças estavam sendo levadas a abrigos das prefeituras. Imagino que deviam ser centenas de crianças nessa situação. Mas essa menininha de sete anos, olhos brilhantes e meio sorriso nos lábios me chamou a atenção.
Enfim, para encurtar a história e explicar para vocês o meu espanto, lembro-me que a repórter perguntou algo mais ou menos como : "o que você está fazendo aqui?". E a menina, meio que em tom de jogral ensaiado, ao lado do irmão mais novo por quem seguramente ela estava se sentindo responsável, respondeu: "a minha casa está em um lugar que tem alto risco de desmoronamento, as paredes estão rachadas, e vários vizinhos já saíram de casa. Então as 'tias' vieram e tiraram eu e meu irmãozinho de lá, pra gente não morrer soterrado, porque meus pais não quiseram abondar a nossa casa".
Olha, eu nem sei se aquela menina tem noção do que ela estava falando. É muito comum crianças repetirem o discurso dos adultos sem saber, necessariamente, o que significa. O meio sorriso e o olhar esperto que ela demonstrava, delatavam, ao meu ver, apenas ingenuidade e uma plena inconsciência do que ainda está por vir.
Eu não quero entrar num julgamento retórico de valores, muito menos questionar as razões e os porquês de pessoas que, instantaneamente, como num passe de mágica, se viram privadas até do direito de decidir, de pensar, de questionar (como deve ter acontecido com os pais da menininha).
Só fico pensando, cá com os meus botões, quantas centenas de crianças, numa tragédia como a do Rio, amadureceram sem aviso prévio, sem anúncio, sem cautela, e principalmente sem proteção. Quantas delas perderam o brilho dos olhos, a esperança... e quantas, daqui a alguns anos, vão desejar nunca ter sido destaque no "noticiário"... apenas ter tido uma infância absolutamente comum, sem sustos, glórias ou sobressaltos.
Desde sempre os "filhos da tragédia" (seja ela seca, enchente, violência urbana ou familiar) no final das contas só queriam ser FILHOS. Nada mais.

A todas a famílias que estão sofrendo com as consequências das enchentes no Rio, e a todas as outras famílias, que cotidianamente, sofrem com as mazelas urbanas de nosso país, Meus sinceros e absolutos sentimentos. Neste exato momento, para homenageá-los, eu não seria capaz de algo originalmente genial.Permitam-me então, plagiar alguém que sabia muito bem o que fazer com as palavras: "quando o sol bater na jenala do seu quarto, lembra e vê que o caminho é o sol".
Enfim, desejo a todas as famílias e crianças das regiões atingidas pelas chuvas (isso inclui Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais) que o sol bata, o quanto antes, nas janelas de suas casas. E ilumine, e abra caminhos, e componha poesias, e inspire novas canções! Desejo, para vocês, o Sol!

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Saudades

Uma vez me disseram que a palavra "saudade" só existe na língua portuguesa. E eu acreditei. E acredito até hoje... me desculpem os mais cultos e letrados. Na verdade, tudo que eu ouvi falar sobre isso só confirmou a versão, para mim, original. Segundo se fala por aí, nehuma outra palavra ou expressão, em qualquer outra língua viva, equivale plenamente à nossa tão conhecida "saudade".
Como boa brasileira, interiorana, de sangue mestiço, e de muito boa vontade, aprendi desde cedo que "sentir saudade" é muito mais do que sentir falta de alguém (tipo "I miss you" do inglês) ou de algum lugar onde estão as raízes (tipo o "banzo" dos escravos africanos no Brasil). Saudade é algo que todos, sem exceção, em algum momento da vida sentimos mas que, provavelmente, pouquíssimos de nós saberiam explicar.Eu mesma não saberia.
Eu, como boa apreciadora das palavras, posso dizer de minha parte, e sem grandes devaneios teóricos, que saudade vai e vem, como o mar. Às vezes tenho saudades da infância, como quem assiste a um filme em preto em branco. Às vezes tenho saudades dos que já se foram, como quem repete incessantemente uma linda oração. Às vezes até tenho saudades do que eu ainda não vivi... estranho isso, né?
Mas posso ser bem egoísta, e falar única e exclusivamente de uma saudade pontual, específica, bem delimitada que andava me perturbando ultimamente? Acreditem se quiserem, meus queridos leitores: eu estava morrendo de saudades de escrever para vocês. Tá, tudo bem, pode parecer piegas... mas corro esse risco com satisfação.E quem me acompanha no blog e no dia-a-dia, sabe que é de coração! Nossa, isso foi ainda mais piegas, né?
Bom, vamos lá. Chega de justificar... Estou com saudades meeeesmo!!!!!
Em algum "post" anterior eu já tinha falado que não conseguia entender como havia ficado tanto tempo sem escrever, se justamente escrevendo eu me entendo e me reinvento... lembro bem disso! Lembro também que naquela ocasião eu tinha meio que "tirado férias de mim mesma", tipo assim "tô sem inspiração, sem ideias legais, sem nada de interessante pra dizer"... bobagem! Bobagem total!
Desta vez as férias foram compulsórias! Nestes intermináveis dias que não postei nada de novo (por forças absolutamente tácitas, cotidianas, mundanas) tantas coisas aconteceram! E antes de dormir,por todos esses dias, ensaiei crônicas elaboradíssimas e muito divertidas . Contos? Pelo menos uns quatro, daqueles que misturam humor e emoção e que agora, que volto à cena, não consigo me lembrar...
Mais uma vez, não pretendo me justificar, mas peço licença para me explicar (de novo) se me permitem. As férias foram compulsórias porque um turbilhão de "dia-a-dia" me atropelou, de dezembro pra cá. Mudança de casa, Natal, Revéillon, fim de Doutorado. E com tudo isso, reavaliações de planos, objetivos e sonhos. E depois de tudo isso, alguns quilos e reais a menos, muitos suspiros de lembranças e sorrisos do por vir, sempre tão bem vindos, e nenhuma, nem uma única linha... Pela primeira vez, a saudade virou angústia.
E com tudo isso que aconteceu, e que eu não pude evitar nem compartilhar com vocês (até agora, prometo), descobri um novo sentido para a palavra saudade. Descobri que posso ter saudade de um lugar, ou de uma época. Certamente, de pessoas e de momentos. Mas, definitavamente, descobri que não posso ter saudades de mim mesma. Confuso? Novamente explico: Nesses intermináveis dias que não pude compartilhar meus pensamentos e minhas (amadas) palavras aqui, descobri que todas as outras "saudades" só são possíveis e saudáveis se, de tempos em tempos, eu me reinventar, me reescrever, me reexplicar. E isso, basicamente, é o que eu faço aqui, no Cotidiano Open Bar.
Essa eu faço questão de assinar, lírica e pessoalmente: Beijos a Todos,
Lira Pessoa!